Eles estão em todas as organizações e fazem seguidores com facilidade. Isso ocorre devido à fragilidade no ambiente de trabalho, que coloca indivíduos em situação de insegurança. São habilidosos em desmerecer quem os ameaça e, em contrapartida, incentivam aqueles que os seguem, mesmo que não sejam os mais competentes na organização. Aliás, o que dá força aos seguidores é justamente a insegurança por não serem reconhecidos.
Até aqui poderíamos estar falando de assédio moral, definido como estados de humilhação e hostilidade que ocorrem no ambiente de trabalho e que nos desestabilizam moral e emocionalmente. De toda forma, a relação de poder e subordinação é que propicia tal estado, já que obedecer é, por si, uma postura submissa. Será que é possível afirmarmos que, considerando que nos organogramas das empresas sempre haverá líderes e liderados, o assédio moral é uma consequência natural? Não estou falando da liderança discutida pela literatura como objeto de motivação, mas daquela que prevê que os liderados, de fato, obedeçam.
Se o ser humano é um todo formado pela família, trabalho e amigos, seria correto pensar que a pessoa que não sente culpa ou remorso pelas suas atitudes e que é fria e calculista em função de seus objetivos — o chamado psicopata — faz do ambiente de trabalho um bom lugar para o exercício da transgressão social? Com base na literatura da psiquiatra Ana Beatriz e, mais recentemente, Katia Mecler, estabeleci como psicopatas organizacionais aqueles que evidenciam o assédio moral nas empresas, mas que trazem de sua história um comportamento frio e uma vontade de ter poder.
Com o mundo corporativo em plena competição, tenho escutado inúmeros discursos acerca de casos de assédio moral que transcrevem personalidades psicopatas. Há um inconformismo sobre o que se pode fazer nas empresas para acabar com o assédio moral porque, dentre outras coisas, é difícil se ter provas sobre o “assediador”. Diante disso, pensando que se trata do psicopata organizacional, penso que devemos, enquanto estudiosos do comportamento humano, encontrar formas de ensinar como lidar com essas pessoas de modo a preservar um pouco da saúde do trabalhador.
É fato que a relação de hierarquia favorece o exercício da psicopatia organizacional, que é criada pela vontade de ascender a cargos executivos ou hierarquicamente superiores. Não há mal algum em querermos ascender profissionalmente, pois nos preparamos a vida inteira para nos tornarmos importantes. É o prestígio no trabalho que nos enaltece socialmente, e é natural que seja assim. Entretanto, temos que aprender a fazê-lo sem levar sofrimento ao outro. Será possível?
Em seu livro, Ana Beatriz fala sobre a consciência como o sentido da vida humana. Talvez nos falte justamente pensar a vida humana. Penso que estamos perdendo a habilidade de conviver sem querer e desejar o que é do outro.
Lucia Borges – Psicóloga Corporativa